Geração Roubada, de 2002

1:57 PM


Existem filmes que nos levam a pensar, refletir e mudar nossa visão de mundo. Existem filmes baseados em fatos reais que são sensíveis, que nos tornam seres humanos melhores e nos fazem perceber que nossas lutas podem ser vencidas. Existem filmes que nos transformam.
A história contada através da ótica de Molly Craig, em sua maior parte do tempo, é totalmente real.
Emocionante e sensível, a obra cinematográfica dirigida por Phillip Noyce é também uma obra prima que nos faz viajar para 1931, transformando nossos olhares em relação a questão etnocêntrica e nos abrindo a mente através de uma história, a entender o que se passou durante anos e com uma grande quantidade de pessoas.
A ótica de pensamento, a atuação das atrizes principais e a luta que é desenrolada ao longo do filme nos faz enxergar uma cultura que estava em desvalorização, tentando ser apagada e querendo ser alterada por quem se achava melhor. Isso não só foi presente na Austrália, local no qual se passa o filme, mas no mundo inteiro.
Fomos palco de várias atrocidades cometidas por culturas que se denominavam "superiores", mas que na verdade não compreendiam que a diferença é o que torna o mundo um local tomado de novas descobertas, aprendizados, possibilidades e desejos.
A minha experiência com esse filme foi a de angústia. Saber que milhares de crianças foram tiradas de suas famílias e impedidas de ter uma infância, adolescência e sua própria cultura, sendo literalmente roubadas por uma simples negação da aceitação da diferença é difícil.
O nome "Geração Roubada" nos remete a isso, há uma geração que teve seus costumes, sua identidade e suas características roubadas, para que, obrigadas a se "civilizarem", estivessem de acordo com seus colonizadores.
A realidade? Esse foi um dos grandes erros que a humanidade já cometeu, fazer a extinção dos diferentes costumes e raças, por causa de mentes que eram fechadas para o novo.

Nome: Geração Roubada
Nome Original: Rabbit-Proof Fence
Data de Lançamento Mundial: 4 de Fevereiro de 2002
Data de Lançamento no Brasil: 21 de Novembro de 2003
Direção: Phillip Noyce
Classificação: Livre Para Todos os  Públicos
Sinopse: Molly Craig é uma jovem australiana de 14 anos que, em 1931, ao lado de sua irmã Daisy , de 10 anos, e sua prima Gracie , de 8 anos, foge de um campo do governo britânico da Austrália, criado para treinar mulheres aborígenes para serem empregadas domésticas. Molly guia as meninas por quase três mil quilômetros através do interior do país, em busca da cerca que o divide e que a permitiria voltar para sua aldeia de origem, de onde foram tiradas dos braços de suas mães. Na jornada elas são perseguidas pelos homens do terrível governador A. O. Neville (Kenneth Branagh), o qual não admite que as meninas não estejam de acordo com o ditado pela sabedoria branca e cristã.




É muito fácil assistir um filme qualquer, mas em "Geração Roubada", a atenção do espectador é fixa na tela e no desdobramento dos fatos que seguem e constroem o enredo dessa obra cinematográfica, que nos convida a todo instante e nos instiga a estar ligados nos acontecimentos para que nada seja perdido.
A Austrália que nós conhecemos, ou diga-se de passagem a "Austrália branca", é somente um lado da história comovente existente naquele país. Os aborígenes foram humilhados pelos colonizadores que ali chegaram, sendo forçados a viver em uma situação de inferioridade que nos leva a refletir o quanto isso é absurdamente insano. 
A questão etnocêntrica mostrada no filme nos faz caminhar em uma linha extensa de raciocínio. O que aconteceu na Austrália é uma história que há muito tempo vem querendo ser escondida. A questão historiográfica que lá se encontra, a falta de humanidade e a imposição de uma cultura tida como "superior" mostra o quanto sofreram as pessoas lá e ao redor do mundo.
As atuações de Evelyn Sampi (que interpreta Molly), Tianna Sansbury (que interpreta Daisy) e Laura Monaghan (que interpreta Graice) são surpreendentes. As reações e as retratações de tão jovens atrizes deram um grande sinalizador de grandeza ao filme. A maneira como mostram suas determinações são dignas o suficiente para prender o espectador que, a todo momento, se sente atordoado à maneira como elas são tratadas. 
A questão do racismo e o direito cultural são bem abordados no filme, que, sensivelmente, trás a história real vivida por Molly Craig, sua irmã e sua prima. As retratações dos "centros educacionais" nos quais os nativos eram levados nos passaram a imagem e o total sentido do porque a existência daqueles locais. Obrigados a abandonar seus idiomas e costumes tradicionais, e assumirem uma orfandade, os nativos eram catequizadas e ensinadas a trabalhos da mais baixa qualificação: para os rapazes trabalhos agrícolas ou manuais urbanos, para as moças prendas domésticas. Quando já estavam "civilizados", eles eram enviados para famílias de toda a Austrália, que que passavam a ser totalmente responsáveis por eles.
Algo tão sórdido e que fica aparente logo no início do filme, é que todas as crianças enviadas para esses "centros educacionais" eram mestiças. Eles acreditavam que a tendência, com as crianças sendo mestiças e casando somente com brancos, era de eliminar os traços aborígenes que existiam em suas linhagens, criando uma "raça branca", apagando todos os traços e resquícios que existiam da cultura que estava na Austrália antes dos colonizadores chegarem.
Calcula-se que 10 a 30% de todos os nascidos aborígenes foram tirados de suas famílias e levados para esses "centros educacionais" entre 1910 a 1960. Esse processo diminuiu gradativamente, até que em 1972 este foi finalmente abolido.
A crítica encontrada no filme nos trás questões que podem ser valiosamente discutidas e levadas à frente, afinal, não foi só na Austrália que ocorreu esse ato contra a cultura dos aborígenes. Os colonizadores faziam com que suas colônias tivessem o ensinamento que eles queriam, embasando-se no que eles achavam certo, esquecendo da cultura que já existia ali e que pendia a todo momento as pessoas nativas daquele lugar. 
Existem culturas que, totalmente massacradas pelas ações dos dominadores, acabaram sumindo. Na Austrália e no Brasil, por exemplo, a grande população permitiu que alguns rastros culturais que existiam antes de haver a colonização permanecessem, mas em pequenos países e ilhas isso não pode acontecer. A Tasmânia (uma ilha e estado pertencente à Austrália que fica localizado a 240 km da costa sudoeste) é um grande exemplo, porque, sem forças depois de tanto resistir a colonização inglesa, acabou tendo sua população "original" extinta.
O fato é que o filme trás a perspectiva etnocêntrica para nós, nos fazendo enxergar uma ótica de mundo caótico que era existente ainda a pouco em alguns locais do mundo. A segregação que eles faziam para que houvesse a extinção da cultura aborígene foi uma forma de tentar acabar com a identidade de uma cultura, e isso nos é transmitido. O sentimento de revolta que se instala em nós ao repararmos no sofrimento que essas pessoas passaram é mais um motivo para levantarmos as questões igualitárias em todo o globo. Somos exatamente iguais, e não será a cor da pele, os traços físicos ou o tipo de cabelo que mudará isso. Todos temos corações que pulsam, pulmões que nos fazem respirar, ossos que nos mantém em pé e uma série de outros fatores físicos que nos tornam exatamente iguais. O problema que enfrentamos no passado e muitas vezes vemos hoje em dia é a falta de humanismo, é a falta do olhar verdadeiramente real e caloroso, que trás a presença e prevalece a igualdade. Estamos sujeitos ao preconceito e ao racismo porque nos educamos dessa forma e passamos isso através de gerações. 
Enquanto houver pessoas lutando para transformar o mundo em um local mais humano e ético, haverá esperança para mudar o futuro. Basta nós querermos agir para alterar os "valores" racistas e preconceituosos enraizados em nossas culturas.

Trailer do filme:

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