Poemas Preferidos: Paulo Leminski

11:12 PM

Poeta, romancista e tradutor, Paulo Leminski Filho nasceu em Curitiba no ano de 1944 e é um dos grandes destaques da literatura nacional. Ele estudou latim, teologia, filosofia e literatura clássica no Mosteiro de São Bento, em São Paulo. Em 1964 publicou seus primeiros poemas na revista Invenção, editada pelos concretistas, e torna-se professor de história e redação em cursos pré-vestibulares, experiência que motiva a criação de seu primeiro romance, Catatau (1976). Interessado pela cultura japonesa e pelo zen-budismo, Leminski praticou judô, escreveu haicais e uma biografia de Matsuo Bashô. A curiosidade pelos mitos gregos, por sua vez, inspira a prosa poética Metaformose. Exercendo de maneira intensa seu lado crítico e e tradutor, ele traduziu obras de James Joyce, Samuel Beckett, Yukio Mishima, Alfred Jarry, entre outros, e colaborou em revistas de vanguarda, além de ter feito parcerias musicais com Caetano Veloso e Itamar Assumpção, entre outros, fazendo grande sucesso.
Fui atraída por esse grande poeta depois de ver um de seus livros empoeirando na escola na qual estudava o ensino médio. Me chamou a atenção a maneira como Paulo herdou a rigorosidade na construção formal e coloquial da estrutura concretista, e mesmo assim deixando claro o humor, as gírias, palavrões e dicções urbanas existentes em suas obras.
Não há como deixar os exemplares de seus poemas passarem em branco, porque em todos eles conseguimos notar a genialidade e o existencialismo. Não há meios termos quando se encontra escritas de Leminski, ou você as amas, ou você as odeia. Sei que radicalizei, mas para mim acaba sendo "8 ou 80", porque de um visão central a questão se trata de entender o que é dito, e tentar ter em mente o olhar do autor para gostar, mas talvez eu esteja errada.
Aí vão alguns de meus poemas preferidos de Paulo Leminski!


"Abrindo um antigo caderno / foi que eu descobri: / Antigamente eu era eterno." - Paulo Leminski




amar é um elo
entre o azul
e o amarelo

***** 
Amor bastante
quando eu vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
*****
A noite me pinga
uma estrela no olho
e passa.
*****
Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.
*****
Razão de Ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
*****
Parada cardíaca
Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.
Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.
*****
O que quer dizer
O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz.
*****
Aviso aos náufragos
Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta pagina, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não e assim que é a vida?
*****
Amar você é
coisa de minutos…
Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui
*****
Não discuto 
não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino
*****
A lua no cinema 
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!

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2 comentários

  1. Amei esses poemas e me interessei pelo autor , vou comprar um livro dele, com certeza.

    http://cantinhodeleitura2.blogspot.com

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    Respostas
    1. Oi, oi Isabel :)
      Tenho certeza que vai gostar dos livros de Leminski! Ele é realmente um grande poeta e consegue ir de maneira profunda em nossas emoções e sentimentos.

      Excluir

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